ESCRITA CRIATIVA I
(curso anual)
(curso anual)
O curso anual de Escrita Criativa propõe explorar um conjunto de técnicas estimulantes envolvidas no acto de escrever. Projectar, reflectir, visualizar, ficcionar, contar, narrar, são vitais. E escrever é o "leitmotiv"!
Através da exploração activa de modos singulares de escrita, procura-se criar uma visão alargada dos processos criativos, recorrendo a material desbloqueador que, ao mesmo tempo que expande o imaginário, o conduz e apoia. Pretende-se provocar a imaginação com a prática da escrita nas suas múltiplas faces: projecções pessoais, despertar sensorial, monólogos, subversões criativas, surrealismos, argumento cinematográfico, grelhas narrativas, personagens, ficções, leituras encenadas, entre outras. O objectivo é expandir o potencial inventivo e experimentar um campo enorme de possibilidades de diferentes registos e estilos. Formadora: Carlota Gonçalves |
'A CAIXA DE PANDORA'
por Jo Lupach
(2019; personagem redonda; 10 páginas) 'A DOR DE QUEM PASSA'
por Alice Feliciano
(2019; método Bowie; 368 palavras) No ano passado o inimigo caseiro mudou-se para o botão. Certo de que tudo era difuso e por algum motivo que me ultrapassa apenas tinha a imagem de uma mão e uma pulseira cintilante de prata na cabeça. Esta mão estava encostada ao antigo alpendre da minha casa, talvez fosse uma metáfora para a minha vida podre. Desviei o olhar do meu passado e olhei para o futuro. Lá estava, tudo aquilo que passei uma vida de solidão e de dor à procura, a flutuar calmamente no céu. As nuvens criavam padrões difusos e por segundos eram concretamente confusas. Provavelmente outra forma literária de dizer que passei uma vida sem a viver completamente. Às vezes tenho febre e rio-me com o pensamento divinamente coerente de que ao olhar da polícia a vida encontra sempre uma solução. A luta intensifica-se todos os dias e a minha lucidez está desparecida entre um país e outro, porque vim da terra dos pés do elefante para a terra das bonecas velhas desenhadas de terra natural de um riacho solto. Depois de escrever este texto perfeito, já nada será como dantes. Isto porque se a criança nos braços do homem tivesse de interpretar este texto na escola, procurariam metáforas sem sentido e figuras de estilo que por aqui não existem. A escola ensina a lógica e a dependência. Por favor, não me torturem por palavras sinceras, porque enquanto vocês procuram alegorias e complementos do nome, neste texto, esqueceram-se de olhar para a janela e não viram a tempo o homem com corpo de mulher e olhos de cão. A mulher é um instrumento do homem, vulgarizada e morta nas mãos da independência e, por isso, esta olha para trás com olhos tristes afogados em ácido e ele, ignorando os seus falsos sentimentos de mulher menstruada, toca-lhe levemente no rabo, explorando uma sexualidade de guerra e violação daquele menino que estava há pouco nos braços do pai. O olho vê o líder da oposição a apontar a arma para os seios desnudos da mulher pobre ou rica. E assim se passa outro dia no mundo do Homem, ser superior e com o dom da organização da hierarquia justa e da perfeição amaldiçoada e nojenta. 'A MENINA DAS FLORES'
por Jo Lupach
(2020; narrativa / projecto final; 58 páginas) 'As palavras da tua boca'
por Lia Ribeiro Dias
(2020; surrealismo / cartas Nougé; 212 palavras) As palavras da tua boca vêm aos borbotões, como o vento que agora uiva lá fora. Impetuoso, bravo, sem limites. Vão lavando tudo que encontram pela frente, arrastando arbustos, levantando poeira e novelos, desfolhando árvores. Pensas um pouco antes de vomitares a tua angústia e o teu ódio ao teu redor, atirando como uma metralhadora giratória sem se importar a quem vai atingir. Eu estou em teu caminho, mas não posso e não quero ser objeto de tuas explosões de fúria. Palavras que ferem nem sempre podem se esgarçar como novelos de poeira que se levantam do chão quando o vento uiva antecipando a chegada da tempestade. Seguras o vento que uiva dentro de você para que ele não corra à solta e lance um dos galhos que carrega arrancados de árvores machucadas sobre pessoas indefesas ou que não merecem a tua agressão. Ou liberas a tua energia e a tua angústia em outra direção. Não quero ser uma árvore desfolhada, nem um arbusto partido. Quero um vento que me carregue em direção aos meus sonhos de uma vida onde há ondas calmas e praias tranquilas, casais e crianças que brincam na areia. Deixas o vendaval passar, seguras o vento com as mãos que uma hora a calmaria chega à tua alma. 'BINÓMIOS FANTÁSTICOS'
por Alice Feliciano
(2019; binómios fantásticos; 314 palavras) FORMIGA E LIVRO Era uma vez um Livro com antenas que queria ir à farmácia comprar açúcar num dia de chuva. Levou o guarda-chuva e as colheres de casa. Assim, que chegou à entrada da farmácia cumprimentou a Formiga. - Que páginas tão bonitas…- disse elogiando a Formiga, que tinha as páginas do seu corpo mais brancas e hidratadas que o Livro com antenas alguma vez vira. No caminho para casa, já com as colheres cheias de açúcar, pensou no quanto gostaria de trocar aquelas antenas e pernas pelas folhas daquela Formiga, seria tão mais fácil distribuir as definições de família por páginas do que apenas as ter todas confinadas na capa dura que era o seu tronco. O Livro tinha tantas palavras em que pensar e tinha de as saber todas de cabeça porque vinha de uma longa família com a tradição de ser dicionário. PÉROLA E CADEIRA Era uma vez um gato verde que se gostava de sentar numa cadeira vermelha, os dias passavam e passavam e nada acontecia. Eram ambos indiferentes ao tempo e ao mundo adjacente, apenas respiravam as 64 horas que os dias tinham e à noite tapavam-se com a toalha de mesa e descansavam do dia vazio que tinham. Até que um dia o gato recebeu uma coleira com uma pérola imperfeita e valiosa. De repente, a cadeira era observada pelos mil e um coelhos espaciais com fatos de linho que veneravam a pérola mágica. Andavam de um lado para o outro e ofereciam leite e vinho tinto ao gato para que este continuasse a oferecer-lhes a honra de observar aquela pérola inanimada. - Porque é que eles gostam tanto de um objeto inútil, que nada faz e em que nada ajuda? – perguntou a cadeira. - Porque é bonito - disse simplesmente o gato. E assim, a cadeira e o seu fiel gato passaram o resto dos dias. 'cinderela no país da canela'
por Helena Alves
(2019; conto de fadas / desconstrução; 10 páginas) 'COMBOIO DA SOLIDÃO'
por Lia Ribeiro Dias
(2020; narrativa / projecto final; 40 páginas) 'GREENRIVER'
por Jo Lupach
(2019; método Bowie; 16 páginas) 'HISTÓRIA DE MULHERES E A MEDUSA DE CARAVAGGIO'
por Mariana Vieira
(2020; narrativa / projecto final; 69 páginas) 'introspeções'
por Alice Feliciano
(2020; narrativa / projecto final; 61 páginas) 'noite escura / longe da vista / rasganço'
por Elsa Alves
(2019; escrita mosaico; 9 páginas) 'OIÇO O ARRASTAR DESLIZANTE...'
por Alex Ramos
(2019; monólogo; 299 palavras) Oiço o arrastar deslizante esperado. A porta frágil abre-se brutamente. Sento-me no banco do veículo movido a eletricidade. A minha cabeça mentalmente quer comigo desabafar. - Cheguei a 1920, em pleno 2020. Como meia dúzia de moedas páram uma evolução que está à distância de uma janela! Mas não são só as moedas que páram as evoluções. Um teto sem lar, um sorriso sem olhar, um amor sem amar, uma memória que só dá para recordar. Tantas teorias de vidas perfeitas, ensinadas por aqueles que possuem falhas de perfeição. Tantas luzes verdes acesas para pararmos numa vermelha, ou para alguém nela entrar. Num olhar pela janela sai quem eu admirei e entra quem nunca esperei. Bem... Este elétrico podia ser a metáfora da minha vida! A caminho da Terra do Nuncamente Sempre! Próxima paragem: Não sei! O raio da minha mente que desenferruja com a chuva! Mas continuo à procura das perguntas às respostas que já tinha... Porquê? Porquê procurá-las? Porquê? Porquê interrogar uma afirmação? Porquê não unir esforços para terminar de acentuar aquele traço com um ponto no final? Porquê, porque não termino no fim em vez de finalizar antes do começo? Porquê? Porquê, colocar espinhos num cravo e agarrá-lo como se não tivesse? Porquê? Porquê? Porquê tentar agarrar fogo com água? Porquê tentar acalmar o vento com chuva? Porquê servir uma lágrima num prato? É como tentar trepar o céu no fundo do mar e bater num barco! Porquê criar vampiros ao sol e soltar lobisomens ao luar! Porquê escolher um garfo para ir navegar à terra das sopas? Porquê levar um polvo à serra? Porquê seguir a estrada que não sabe o caminho? Porquê sorrir para não chorar? Porquê? Porquê a vida são apenas problemas e desejos? A porta abre-se e eu saio para a rua! 'PENDURADOS SOBRE O ABISMO'
por Elsa Alves
(2020; narrativa / projecto final; 59 páginas) 'PORTAS'
por Alex Ramos
(2020; narrativa / projecto final; 60 páginas) |
'a caIXA DE PANDORA'
por Jo Lupach
(2019; personagem redonda; 2' 26'') 'OIÇO O ARRASTAR DESLIZANTE...'
por Alex Ramos
(2019; monólogo; 1' 56'') 'portas'
por Alex Ramos
(2020; narrativa / projecto final; 1' 49'') |